Redescobrindo o Brasil há mais de 30 anos

O Sertões é o maior rally das Américas, disputado anualmente no Brasil desde 1993. É um Rally Cross-Country para carros, motos, UTVs e quadriciclos, disputado em áreas inóspitas do país. Cada edição promove um roteiro diferente.

Tudo começou sobre duas rodas. Provas como o Paris-Dakar encantavam, mas ainda eram uma realidade distante do Brasil quando 34 pilotos alinharam em Campos do Jordão para a primeira edição do Rally dos Sertões. O destino era Natal (RN), passando por Minas, Bahia e Pernambuco. Tempos românticos de pouca tecnologia e muita superação que plantaram a semente para uma história de mais de três décadas.

Não demorou e os primeiros estrangeiros (inclusive vencedores do Dakar) alinharam, levando ótima impressão na bagagem. Em 1995, de forma experimental, os carros entraram na disputa, para se tornarem modalidade à parte no ano seguinte. Os caminhões chegaram em 1998 e os UTVs, nova sensação do fora de estrada internacional, em 2012.

O Sertões se tornou etapa da Copa do Mundo FIA (carros) e do Mundial de Rally Cross-Country FIM (motos e quads). E trouxe ao país nomes como Stephane Peterhansel, Carlos Sainz, Nasser Al-Attiyah, Cyril Despres e Marc Coma. Mostrou que os brasileiros podem rivalizar com estes monstros sagrados e, com o passar do tempo, ganhou em profissionalismo e estrutura. Hoje, é possível acompanhar trechos das especiais ao vivo por meio de uma cobertura dedicada de TV. O maior rally das Américas é também um dos mais respeitados e tradicionais do planeta.

A ‘loucura’ dos 30 anos

O roteiro do Sertões 2022, o 30º da história, foi audacioso, no espírito de unir o Oiapoque ao Chuí ou, com a devida licença poética, o Paraná ao Pará, atravessando todas as regiões e biomas de um país-continente. Foi o maior Sertões de todos os tempos, disputado em 15 dias, passando por 8 estados e 14 cidades. Ao proporcionar um desafio inédito em distância e quilometragem, a organização resgatou locais, especiais e dificuldades que se tornaram lendários nessas três décadas, ao mesmo tempo em que revelou novos tesouros brasileiros. Dos mais de 7.202 km totais, cerca de 60% foram cronometrados, o que fez da prova o maior rally do mundo em trechos contra o relógio.

Tudo começou na tríplice fronteira com Argentina e Paraguai. Foz do Iguaçu foi o palco do prólogo, junto ao Parque Nacional das Cataratas; e do Super Prime, que reuniu os oito melhores de cada modalidade (Carros, Motos e UTVs) em um circuito justamente onde os três países se encontram.

Ainda em solo paranaense, os competidores rumaram para Umuarama, por entre retões e muitos saltos. A segunda etapa terminou em Presidente Prudente (SP), região Sudeste, com direito a uma recepção à caravana estimada em mais de 20 mil pessoas. Terceiro dia e terceira região diferente: o Centro-Oeste, com a chegada da etapa em Campo Grande. E de lá para Costa Rica, a capital sul-matogrossense dos esportes de aventura. Quinto dia e uma das mais extensas especiais da história levou os participantes a Barra do Garças, já no Mato Grosso.

Um percurso tão extenso, inclusive com a divisão em Sertões Sul e Norte para quem não pôde fazer a prova completa, exigiu duas etapas Maratona (em que apenas os competidores podem fazer a manutenção dos veículos ao fim do dia). A primeira delas foi aberta com a perna entre Barra do Garças e São Félix do Araguaia. E concluída com a passagem pela Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do planeta, até a chegada a Palmas, que marcou o dia de descanso. Da capital tocantinense foi a vez da segunda Maratona, no sempre temido Jalapão e seus caminhos de areia. Mateiros foi a cidade-dormitório, a caminho de Bom Jesus, no Piauí, a escala nordestina da aventura.

Nela, uma etapa em laço brindou pilotos e navegadores com as belezas dos Cânions do Viana. Caminho do Maranhão na 11ª etapa, concluída em Balsas. Imperatriz, ainda no estado, foi a antepenúltima parada, de onde motos, carros, UTVs e quadriciclos rumaram para Paragominas, já no Pará. Faltava pouco para completar o mais longo Sertões de todos os tempos: o mar de Salinópolis consagrou todos aqueles que superaram o desafio, e especialmente os campeões.