Superação é uma palavra que combina muito bem com a realidade do Sertões, o maior rally das Américas. Ao longo de um percurso de milhares de quilômetros, competidores e máquinas são testados em condições extremas e se, tanto uns quanto os outros estão preparados para o desafio, imprevistos fazem parte do cotidiano.

Em mais uma quinta-feira, dia de TBT, o mergulho nas histórias dos 32 anos de prova traz um exemplo marcante dessa capacidade de superação que acabou premiado dias depois. O cenário foi a edição 2022 que, para celebrar as três décadas do Sertões, cortou o Brasil do Paraná ao Pará com um roteiro de mais de 7.000 quilômetros – foi o maior do mundo em especiais cronometradas naquele ano.

Lucas Moraes e Kaíque Bentivoglio lideravam entre os carros com uma vantagem relativamente tranquila até a largada da 11ª das 15 etapas, entre Bom Jesus (PI) e Balsas (MA). Com pouco menos de 10 km de especial, um problema deixou a Toyota Hilux T1+ da dupla sem a direção hidráulica. Um auxílio fundamental para domar uma máquina de duas toneladas com pneus 37 polegadas e potência de 400cv por caminhos acidentados.

Lucas decidiu seguir adiante e completou os 200 km restantes de especial “no braço”. Com o forte calor, completou o trecho passando mal e estava completamente esgotado ao cruzar a célula de cronometragem. Como permite o regulamento, Kaíque comandou o veículo no deslocamento final.

A insistência em seguir adiante foi premiada com a segunda das três conquistas de Lucas e Kaíque no Sertões, em uma edição mais que especial.

Raça

“Foi a etapa mais difícil da minha vida. Tudo que é positivo em nosso carro se tornou uma dificuldade a mais. E o pior é que não tinha uma reta para poder descansar um pouco, era muito sinuoso. Várias vezes achei que fosse acertar umas árvores no caminho, trouxe na raça e na superação”, resumiu o piloto, enquanto se recuperava do esforço.

Engenheiros e mecânicos da Overdrive, preparadora da Hilux T1+, ficaram impressionados com o feito do paulista, considerando o peso (literalmente, inclusive) de não contar com a assistência hidráulica por um percurso tão extenso. Uma performance certamente levada em conta para que Lucas, meses depois, fosse escolhido piloto oficial da Toyota para o Mundial de Rally Raid (W2RC).